Viagem de clandestino
1
rapazes e raparigas
que me conheceis desde pequenino
eu fui dos tais
que para França émigrei clandestino
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os meus martirios passei
au destino me lançei
para na frança émigrar
grandes montanhas andei
para ver de la chegar
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agora vos vou contar
o que foi meu viajar
eu digo a sorrir,
mas nao a brincar
o dia era para dormire a noite para caminhar
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no dia 11de julho de 1965
acreditai no que eu vos digo
olhai que eu nao minto
a nossa terra deixei com o rosto cheio de lagrimas
dor que hoje nao sinto
5
as oito horas da noite larguei
do meu pequeno lar
nem pela povoaçao passei
para mais lagrimas nao arramar
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para Mane me dirigi
por onde fui passar
voltando costas ao povo
vila verde ia deixar
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minha mae me acompanhou
com lagrimas na carra me falou
assim muito baixinho
nao te esqueças de nos e lembra-te do nosso pequenino
8
o relogio todo vaidoso
de nada se emportava
sem dar satisfacoes
para as nove caminhava
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era a hora combinada
para o carro ali aparecer
ia entao comecar
a viagem a fazer.
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isto nao é brincadeira
foi coisa bem séria
numca julguei de fazer
viagem tao severa
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do Cimo da tapada parti
de minha mae me despedi
ela ficou a chorar
em casa tinha deixado mulher e filho a gritar.
12
com lagrimas no rosto
para o carro montei com esforço
pouco depois em Vinhais ia passar
logo as 10 horas no cruzamento da quadra
ali ia entao apear
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um rapaz de momento apareceu
e me veio falar
sou o homem eu
que a manzalvos o vou guiar
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com aquele modo de fala
parecia ser bom cavalheiro
a onde me foi deixar
à casa de um padeiro
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eram tres da manha do dia doze
quando naquela casa entrei
onde avia boas mantas
ali sim bem descansei
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au amanhecer o dia
là naquela gente
nao avia parança
eu entao pensei
Sao os que vao a feira de bragança
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dia doze e treze ali repousei
e entao assim lhe falei
o que é que aqui se faz
se nao vou para diante volto para traz
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terça a noite dia treze se falou
assim me explicou aquele senhor
as nove da noite partiria
armado em ceifador
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de foiçe na mao fui seguindo
sem aspeto de ceifador
por ali ia fugindo
mas nao parecia travalhador
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de Manzalvos partira,esta se ia deixar
caminhando sem demoras
dois senhores me iam acompanhar
andando rapidamente para à estrada chegar
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là se via um carro a aprocimar
sera aquele que nos vai levar
nao é coisa certa
ali amarrado num monte de gestas
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quando o carro ali chegou
o chofer aquele senhor mirou
logo de golpe parou
sem mais querer saber
« andai montai depressa nao à tempo a perder »
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de facto,nos nao exitamos
logo no automovel montamos
seguindo aquela estradita
de momentos se avistava a Mesquita
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quando a Mesquita se passava
muito ceifadore là andava
o chofer brincalhao dizendo « ola
deixai a ceifa e vinde para là »
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a Mesquita se deixava
pelo Pereiro se passava
na estrada nacional iamos entrar
e ao kilometro 434 fomos apear
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o chofer ali nos deixou
antes,assim nos falou
« naquelas gestas tereis de ficar
até vir outro camarada que vos ira guiar »
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eram dez horas e meia da noite
isto sem por nem tirar
as onze em ponto apareceu o figurao
que até mais longe nos ia levar
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ali parou entao
um grande espadalhao
assenando com a mao ,dizendo « vinde montar
sou eu que por ai adiante vos vou acompanhar »
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a esse instante começa-se a rolar
deixando assim para traz as massadas
entao diz o domingos
« olhai, alem sao as Edradas »
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assim se ia viajando
naquele terreno bem torto
mas dentro de momentos
passava-mos o alto do pôrto
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là se foi subindo
aquela serra escalabria
à meia noite ,nos passando
o portelo da Senabria
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a estrada melhorou
ja se andava mais agora
o chofer nos indicou
ao longe « aquela luz é Zamora »
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o automovel muito andava
o condutor se explicava
« vamos là para a frente
à uma da manha estaremos em Benavente »
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por essas terras fomos passando
sempre com fé e crença
as duas da manha
chegamos a cidade de Palencia
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eram terras de Castilla
como mudos e surdos
as três horas avistamos
a grande cidade de Burgos
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eu claro que nao dormia
por onde passava via
atente com a memoria
as quatro horas estava em Vitoria
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Vitoria cidade linda
que é de admirar
dando volta eu vi
a fabrica das cartas de jogar
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rolando sempre sem parar
Castilla se ia deixar
por aquela estrada nua
as cinco horas estava em Alsaçua
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um cruzamento avia entao
o chofer sem mapa nem reçeio
deixou a estrada de Sao Sebastiao
seguindo a que ia a Pamplona
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por lugares que ia passando
lhe dizia « adeus adeus »
pelos vidros do carro espreitando
jà avistava os altos Pirineus
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num lugar junto a estrada
ali estava um senhor
o chofer me falava
« aquele é o passador »
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o passador de lambreta andava
por outra estradita seguia
o carro o acompanhava
isto éra ao romper o dia
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lindas trigueiras ali avia
mas ainda a verdejar
nao sei quando se poderia
aquele trigo ceifar
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o dia assim se anunciou
viajando no normal
quando a estrada acabou
eram seis horas ,perto de um carvalhal
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uma hora esperamos
até o sol crescer
vêm entao o passador e o guia
e dizem « vamos là a romper »
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grande marcha se andou
sem mais querer saber
o guia nos deixou
e foi buscar de comer
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numa mata tao fechada
onde o passador nos foi meter
que nem se via o ceu divino
ele nao tardou em aparecer
com pao marmelada e vinho
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continuava-mos a andar
a viagem a fazer
naquela mata tao fechada
propria para nos perder
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depois fui encontrar
no monte,um carrouxo au revez
muitas emblagens ali vi
de tabaco português
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au alto da serra chegar
era entao meio dia
para a viagem contiuar
nos entregaram a outro guia
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au alto da serra cheguei
com a roupa toda suada
ali me despi em nu e descansei
enquanto ao sol a roupa se enxugava
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assim se vestiu a roupa
ainda meia molhada
logo comecei descendo
uma outra mata cerrada
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descendo e subindo serras
andando sempre sem parar
as duas horas da tarde
o passador,num souto nos foi deixar
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là estivemos toda a tarde
sem comer nem beber
jà estava a vir a noite
e o passador sem aparecer
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jà estava-mos sentindo
viagem de torturas
dizia entao o domingos
« sabendo o caminho ficava nas Asturias »
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« para traz nao volto eu »
diz o anibal arreliado entao
« para a frente é que eu vou
nem que va para a prisao »
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au estas palavras dizer
um homem entao a aparecer
com um pacote na mao
era o passador que nos trazia de comer
marmelada e pao
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comigo esteve a conversa
com ar de sâcana e sereno
dizendo « ali tereis de ficar esta noite
naquele monte de feno »
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com o fêno se fez a cama
para descansar e dormir
durante a noite uma vaca nos comia as mantas
assim nos estava a descobrir
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o domingos que era o da borda
foi o primeiro a sentir e ver
uma vaca a comer
levantou-se e logo se pos a correr
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fugiu a ladra
sem mais querer saber
au mesmo instante
começou a chover
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amanhecia o dia quinze
nem um barulho se ouvia
caia chuva devagar
parecia que ainda dormia
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assim se passou a manha
sem ninguem aparecer
as onze horas vem o guia
e diz, « au meio dia iremos romper »
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de tudo que me diziam
eu jà nada acreditava
so em ter reconhecido
em todos tanta mentirada
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au meio dia saimos entao
verdade falou aquele homem
passamos na ponte st Estebao
e fomos para o barracao da fome
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era bem perto da estrada
aquele ditoso barracao
tambem ali ficava
a aldeia de st Estebao
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o passsador la nos deixou
foi buscar de comer entao
nao demorou em aparecer
com marmelada e pao
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os que por ali tinham passado
assim o baptizaram
tu es o barracao da fome
os nomes nas paredes gravados
tinham deixado parte daqueles homems
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da uma hora da tarde até a meia noite
repousei naquele barracao faminto
recordo-me de um nome gravado
era o de jose pinto
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eu tambem fiz igual
assim como outros mais
la deixei gravado
sou joao antonio pires de vinhais
71
a meia noite larguei
para alta serra montar
quando ao cimo cheguei
grandes rebanhos là vi a descansar
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mais adiante entao passei
numa mata escura e fechada
so as quatro da manha
é que cheguei a uma estrada
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ali entao nos juntamos
a trez guias e cinco cavalos
seguindo com silencio e alerta
por uma estradita da floresta
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num cavalo montei
so eu aproveitei
para so apear
au a estradita deixar
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depois da estrada deixar
é que foi duro a valer
ja nao pensava mais nada
so que ali teria de morrer
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estava o sol a nascer
caminhando por mata tremenda
foi assim que tive de fazer
aquela noitada orrenda
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nove horas dia dezasseis
é que o tal crosse acabei
nem quero mais recordar
lugares por onde passei
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a beira de um ribeiro
onde me foram enterrar
num lugar tao ladeiro
que nem me podia sentar
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ja nao me deixava a fôme
e sem ninguem aparecer
eu bebia agua fresca
porque nao tinha que comer
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doze horas ali passei
horas de tanta amargura
quando de ali sai
ja era noite escura
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seguindo a viagem ainda
com barriga faminta
ao bater a meia noite
é que cheguei a uma quinta
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era em plena serra
que uma casa branquejava
so depois de trez horas andar
é que la se chegava
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sitio onde descansei uma hora
fixai se quereis saber
estava cheio de fome
mas so me daram de beber
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a uma hora da manha continuei
outro crosse a fazer
descendo por um caminho velho
Endaie estava a ver
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as duas horas da madrugada
Espanha ia deixar
passei as duas estradas da raia
em Franca ia entrar
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era agora territorio françês
a terra que eu pisava
até que enfim cheguei
ao paîs que aspirava
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atravessando grandes fétais
que nao tem explicaçao
tinham grande orvalhada
como na manha de sao joao
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encontrei muito gado de lâ
pela beira de um ribeiro
eram as trez e meia da manhâ
quando cheguei a um palheiro
89
naquele palheiro muito fêno
lei bem,toma sentido
estava parecia tabaco
de tantos la terem dormido
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amanhecia o dia dezassete
entao me apagaram bem a fôme
a noite,seguimos viagem as sete
assim o destinou a sorte
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as sete da tarde sai
com cautela e pericia
nao tardei em avistar
um grande policia
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derrepente voltei para traz
dando volta por um desvio
passando em Monsseraz
e tive de atravessar um rio
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depois de aquela volta dar
perto do policia tive de passar
com os olhos bem abertos
era apenas uma distancia de cinquenta metros
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e logo depois num automovel montei
a st Jean De Luz me foi levar
as onze da noite comecei
no comboio a viajar
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até Tours viajei sem apear
era onde tinha de ficar
para tomar outra linha
por onde avia de passar
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eram quatro da manha
quando a Tours cheguei
passados vinte minutos
em outro comboio montei
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era entao dia dezoito
dia de santa marinha
là ia seguindo de comboio
sem conhecer nadinha
98
cheguei a Montluçon
ainda na parte da manhâ
tomei outro comboio entao
que me levou até Moulins
99
ali desci para procurar
onde ficava o Creusot loire
que linha tinha de tomar
nao via jeito de la chegar
nem de a viagem terminar
100
ao chef da estacao perguntei
mas ele nao me compreendia
eu francês tambem nao falava
que ia ser da minha vida
101
a direçao lhe mostrei para me explicar
ele me escreveu num papel a hora da partida
e que em Nevers tinha de mudare
so as nove da noite ao Creusot ia chegar
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de comboio toda a noite e dia
ia farto de viajar
mas vazia ia a barriga
ainda sem almoçar
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ja vinha tao saturado
mais nao podia aguentar
se nao tomamos outro rumo
nao conseguimos là chegar
104
eram quatro horas da tarde
quando tomei outra resoluçao
de ir alugar um taxi
que estava diante da estaçao
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o Nuno e eu assim fizemos entao
com o chofer fomos falar
mostrando-lhe o endereço
quanto nos ia quebrar
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por uma agenda puxou
o homem de cabelos brancos
e entao nos explicou
que nos levava uma certa soma en francos
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voltamos para a estaçao chamar
jà com mais satisfaçao
o Anibal e o Domingos
que estevam a esperar
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la voltamos todos quatro
para no taxi montar
o taxista entao nos disse
que por quatro seria mais caro para nos levar
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eu bastante irritado fiquei
mas nada podia dizer
era um clandestino
e so tinha a perder
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o remédio foi aceitar
pagando o que ele queria
tirando-nos de preocupaçao
e foi mais facil para là chegar
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as sete horas da tarde
chegamos entao au Creusot
o chofer procurava onde ficava
o acampamento Maillot
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quando au Maillot cheguei
um homem de barbas encontrei
nao me era desconhecido
pensei e magiquei,é o Ramiro
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era entao o ex policia de soeira
ali conhecido pelo pereira
aquel bom e belo rapazote
vinha a ser filho do zé pimparrachote
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procurei entao o amigo Montouto
là me foram acompanhar
com ele nos fomos encontrar
de avental a cinta tratando do jantar.
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foi assim,meus amigos,a minha viagem de clandestino
para França do dia 11 ao 18 em julho de 1965.
com a companhia do Nuno (tio carlos) Domingos(bingarras) Anibal (nibinho).
João António Pires