« Saudades não pagam dívidas » – recueil de textes d’expression émigrée

Traduisant le sentiment de milliers d’hommes et de femmes qui ont dû émigrer ou s’exiler et qui travaillent durement sur le sol français, “Saudades não pagam dívidas” (Les regrets ne compensent pas) est un recueil d’œuvres d’expression populaire, édité à Paris, en 1980, avec le concours de l’Association l’œil étranger.

Il comprend des poèmes recueillis dans les associations ou auprès de poètes anonymes par Yvette Tessard, Manuel Madeira et Alberto Melo. Ils constituent des témoignages authentiques qui alimentent la mémoire collective de l’immigration portugaise en France. Les thèmes apparaissent clairement à travers ces quelques titres: “O salto” (le saut, le passage clandestin de la frontière), ”Despedida” (les adieux), “A terra prometida” (la terre promise), “Máquinas alugadas” (des machines louées), ou encore “A Revolução portuguesa” (la Révolution portugaise).

Nous avons extrait de la partie intitulée « O salto » ce passage du très long poème “A Ilíada do Virgílio” (190 quatrains), écrit par Virgílio Joaquim Antunes, inspiré de la tradition orale, rappelant les chants à la desgarrada au Portugal ou les repentistas du Nordeste brésilien, dans lequel l’auteur nous raconte sa propre épopée:

A vinte e nove de fevereiro

A minha terra abandonei

Não desejo ao meu inimigo

Os martírios qu’eu passei

…..

E depois de todos juntos

Multiplicou a aflição

Entrámos 27 homens

Para dentro de um camião

……

Pão seco foi o que nos deram

E chouriço a acompanhar

Quem sabe se era de cão

Que ninguém lhe pôde pegar

…..

Ao sair do camião

Quase nem sabia andar

Tanto tempo encolhido

Deu quase para engamear

……

Neve com mais d’um palmo d’alto

Lá vão os desventurados

Subindo e descendo serras

Emigrantes desgraçados

…..

Seguimos então o guia

E as boas falas que nos deu

E numa casa mui grande

Lá para dentro nos meteu

…..

Às três e meia da tarde

A Paris fomos parar

Era tal o movimento

Não conseguimos desembarcar

……

Não julguem qu’em França os frangos*

Se apanham no capoeiro

É num deserto ou a voar

Olho vivo e pé ligeiro

…..

Não é abanar uma árvore

E encher um saco de caça

Para arranjar dois tostões

Sabe Deus o que se passa.

* Jeu de mot avec “francos”

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