Mémoire Vive / Memória Viva lance un fonds d’archive sur la mémoire de l’immigration portugaise

L’ouverture du fonds a compté avec les interventions de Franck Veyron, responsable du département des archives écrites et audiovisuelles de la BDIC, ilda Nunes, présidente de Mémoire Vive/Memória Viva, Marie Christine Volovitch-Tavares, historienne et vice présidente du CERMI (Centre d’études et de recherches sur les migrations ibériques), Tatiana Sagatni de l’association Génériques et de deux donateurs : Vasco Martins et Albano Cordeiro.

Veuillez trouver ici en intégralité les présentations et les débats, ainsi que le texte complet de l’intervention d’Ilda Nunes, présidente de notre association.

 

 

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Guerra ou Paz de Rui Simões (2012)

Entre 1961 e 1974, 100.000 jovens portugueses partiram para a guerra nas ex-colónias. No mesmo período, outros 100.000, saíram de Portugal para não fazer essa mesma guerra. Em relação aos que fizeram a guerra já muito foi dito, escrito, filmado. Em relação aos outros, não existe nada, é uma espécie de assunto tabu na nossa sociedade. Que papel tiveram esses homens que « fugiram à guerra » na construção do país que somos hoje? Que percursos fizeram? De que forma resistiram? From 1961 to 1974, 100.000 young Portuguese men went to war in the ex-colonies. At the same time, another 100.000 left Portugal to avoid that same war. About the ones who made the war a lot has been said, written and filmed. About the others nothing has been said, it is a sort of taboo of our society. What role did the men who « escaped the war » in the creation of the country we live in now? In what way did they resist? If there is an image of the unknown soldier, this film tries to show that other unknown man who refused to be a soldier.
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Hommage aux déserteurs des guerres coloniales : Le débat

Veuillez retrouver ci-dessous en intégralité le débat qui s’est tenu lors de l’hommage aux déserteurs des guerres coloniales portugaises, le 25 avril 2015 à la Casa Poblano.

Avec Victor Pereira, historien et maitre de conférences en Histoire Contemporaine à l’Université de Pau et des Pays de l’Adour. Il est l’auteur de « La dictature de Salazar face à l’émigration, l’Etat portugais et ses migrants en France (1957-1974) » paru aux éditions Presses de Sciences Po.

António Oneto, militant anticolonialiste et déserteur dont une partie du parcours est relaté dans le court-métrage « Un aller simple » de José Vieira (inclus dans le DVD « Les gens du Salto »).

Vasco Martins, insoumis et animateur de réseaux de soutien aux déserteurs portugais en France et dans le reste de l’Europe.

Maurice Montet de l’Union pacifiste de France (unionpacifiste.org).

Vasco Martins et António Oneto ont fait don de leurs archives à la BDIC à travers l’association Mémoire Vive-Memória Viva (voir ici pour plus d’informations).

Contexte général

De 1961 à 1975, le Portugal colonial de l’Estado Novo mena une guerre sanglante en Guinée Bissau, en Angola et au Mozambique, pays cherchant alors à accéder à leur indépendance. Refusant d’aller faire la guerre,100 000 insoumis, réfractaires au service militaire et déserteurs fuirent le Portugal et les différents théâtres d’opération. C’est une des plus grandes vagues connues de désertion. Si beaucoup d’entre eux se sont retrouvés en France, alimentant le besoin en main d’oeuvre des « trente glorieuses », d’autres se sont installés au Luxembourg, en Suède, aux Pays-Bas, au Danemark, au Royaume-Uni… Si la plupart ont été appuyés par des réseaux familiaux ou amicaux, des organisations – formelles ou informelles – et des « comités de soutien aux déserteurs » tentaient de leur venir en aide, voire d’exhorter à la désertion. Après le coup d’état du 25 avril 1974, qui mit fin à la dictature de l’Estado Novo, un grand nombre de déserteurs, politiquement très actifs, sont rentrés au Portugal. Ils ont été des acteurs importants du bouillonnement révolutionnaire du PREC. Rien ou peu a été écrit sur les déserteurs des guerres coloniales portugaises. Il est temps de leur rendre hommage et d’écrire leur(s) histoire(s).

www.memoria-viva.fr/hommage-aux-deserteurs/

Poèmes pour la journée d’hommage aux déserteurs du 25 avril 2015

Cette sélection de poèmes a été établie par Dominique Stoenesco et est le reflet, par l’écriture, des deux jours organisés par l’association Mémoire Vive/Memória Viva en « hommage aux déserteurs » de la guerre coloniale portugaise (1961-1975). ************************************************************************************* MANUEL MADEIRA (« Já cá não está quem falou”, Éd. L’Oeil étranger, Paris, 2012) Aviso a quem não os espera Como avisar aqueles subjugados pela tentação de sucumbir a “perigos e guerras esforçados” que continuam obstinados, a lutar por terra e por mar, na doce cegueira de redescobrir novos e utópicos paraísos, que nunca existiram, para além da mítica Taprobana.   Honrando bandeiras manchadas de sangue e vulgares emblemas de metal brasonados.   Pobres vítimas de impérios desfalecidos na bruma dos séculos.   Heróis de imundos bairros de lata herdeiros de safados mitos bolorentos que lhes vacinam o futuro com a subtil “dioxina” dos hinos às grandes descobertas do glorioso povo aventureiro. Mesmo quando estou cá, estou lá   Nasci em Estremoz – alva cidade do Alto Alentejo – a cinco de Agosto de 1936.   Nove anos antes de cair sobre Hiroshima uma bomba atómica.   A minha infância evoca-me um dia de ceifa e de vento Suão.   Seco e sem pão,   entretanto:   nas oliveiras amadureciam azeitonas e no forno cozia o pão.   Graças às rijas promessas paternas perdi gosro à vida e à Pátria   – tão habituada a enjeitar os seus filhos –   desprezei o passado glorioso   (feito de crimes e de miséria)   e fugi lá pra fora ganindo como cão mal tratado à procura de abrigo. Para mim…   Para mim não houve ouro do Brasil nem especiarias da Índia nem Algarves de ternuras nem pastéis de nata de Belém   Para mim não houve nada, nem ninguém… nem mesmo a ilusória crença do possível regresso do Rei Dom Sebastíão que eu nunca esperei em Belém. LIBERTO CRUZ (“Jornal de campanha”, Ed. Peregrinação, 1986)   Meu irmão sem armas, meu amigo: aqui te deixo morto, sob esta pedra, como dantes deixavam os velhos. Irremediavelmente.   —   Vermelha terra, estranha gente, homens nossos irmãos. Quando acabará este teatro-em-drama e recolherei a casa? Onde ? Como? Quando?   —   Já viste um jovem morrer? Acaso esqueceste o brilho dos seus olhos?   —   Emigrar, desertar, ou ficar emigrante desertor?   —   Onde estão os escritores do meu País, Ó António Nobre, que nada escrevem sobre esta guerra?   —   O Furriel: “dizem que em Portugal não há liberdade. É mentira. Por exemplo, se aparecer um tipo qualquer na rua a gritar Viva o Salazar, Viva o Salazar, ninguém o prendre”.   —   Um civil, campeão de liberdade, escritor, jornalista e tudo, vendo-me regressar inteiro da guerra: “você está óptimo, não lhe aconteceu nada”. Será que os manuais não os ensinam a ver por dentro?   —   Uma novidade: a partir de agora alguns pais vão passar a receber no dia 10 de Junho, no Terreiro do Paço, uma medalha em troca dos filhos. ANGÉLIA DA ASCENSÃO V. GONÇALVES PINTO (“Antologia do Círculo dos Poetas Lusófonos de Paris”, Éd. Lusophones, Paris, 2004) Pourquoi? Pour qui?   Va faire ton devoir; Vas-y p’tit gars. Apprendre jusqu’au soir À être un soldat ?   Tu vas partir loin de ta maison, Apprendre le tir, Manier le canon, Un char conduire, Piloter un avion Ou un grand navire… Tu seras, mon garçon, Face à l’ennemi ! Tu feras la guerre… Pourquoi ? Pour qui ? Laissant ton père et ta mère !   La bataille bat son plein, Tu ne fais que tirer ; Et ton cœur en ton sein Ne fait que pleurer…   Quel est ce devoir Qui demande de tuer, Défendre un territoire Jusqu’à ta vie donner ? Et ta jeune existence Terminant un « beau jour » Tuant l’espérance De vivre dans l’Amour !   Pour de grandes nations Avides de pouvoir et puissance La vie d’un garçon : « Quelle est l’importance ?! »   Si au lieu d’armements Ils pouvaient construire Des maisons pour les gens Qui de froid, de faim vont mourir… VIRGÍLIO JOAQUIM ANTUNES (“Saudades não pagam dívidas”, éd. L’Oeil étranger, Paris, 1980) A Ilíada do Virgílio (extraits)   A vinte e nove de fevereiro A minha terra abandonei Não desejo ao meu inimigo Os martírios qu’eu passei ….. E depois de todos juntos Multiplicou a aflição Entrámos 27 homens Para dentro de um camião …… Pão seco foi o que nos deram E chouriço a acompanhar Quem sabe se era de cão Que ninguém lhe pôde pegar ….. Ao sair do camião Quase nem sabia andar Tanto tempo encolhido Deu quase para engamear …… Neve com mais d’um palmo d’alto Lá vão os desventurados Subindo e descendo serras Emigrantes desgraçados ….. Seguimos então o guia E as boas falas que nos deu E numa casa mui grande Lá para dentro nos meteu ….. Às três e meia da tarde A Paris fomos parar Era tal o movimento Não conseguimos desembarcar …… Não julguem qu’em França os frangos* Se apanham no capoeiro É num deserto ou a voar Olho vivo e pé ligeiro ….. Não é abanar uma árvore E encher um saco de caça Para arranjar dois tostões Sabe Deus o que se passa.   * Jeu de mot avec “francos” JOSÉ TERRA (“Obra poética”, José Terra, Ed. Modo de Ler, Porto, 2014) Poemas da noite longa 1. Amor! amor!, a caminhada é dura E não tem fim este deserto imenso, Em vão os olhos tapas com o lenço E abafas teus suspiros de amargura.   Além de mim, de ti, da noite escura Dos teus cabelos, desse abismo intenso Do teu olhar, fica um nevoeiro denso De incertezas, de medos, de tortura.   Mas nós caminharemos lado a lado, Teu ombro no meu ombro e a fronte erguida, Abrindo nosso peito ao vento norte.   Sob as estrelas e o luar vidrado, Semearemos cânticos de vida Sobre os campos gelados pela morte.   2. Ergueremos pendões nas cidadelas, Dos nossos braços fugirão revoadas De aves cantando as asas resgatadas, E eu beijarei essas espáduas belas.   Amansará a raiva das procelas, E falarão as pedras das calçadas, E as grilhetas e as virgens desfloradas E o mar e a luz e os ventos e as estrelas.   E veremos crescer o girassol, Derruírem castelos de vaidades, Poveiros a saudar o sete-estrelo.   Sobre nós dois há-de raiar o sol, Aos nossos pés hão-de florir cidades, Cantarão rouxinóis no teu cabelo! Insegurança Tenho medo de ti, ó meu irmão, Dessas palavras mansas tenho medo, Se até as pedras ouvem o segredo Guardado nos confins do coração …   Tenho receio, amor, dessa canção Que tu me cantas, desse teu enredo Será teu corpo a nau para o degredo. Teus braços nus a grade da prisão?   Minha mãe! minha mãe! não te confio O meu destino e é vão esse teu pranto! Não trairás acaso o filho amado?   Não me conheço nessa voz que rio, Espreitam-me os assassinos, e, no entanto, É um criminoso o que ficar calado! Juramento   Pelos meninos nus que apodreceram Ao frio e à fome, à boca das aldeias, Pelos mendigos, pelas mães plebeias Chorando sobre os filhos que morreram!,   Pelos homens sem pão que enlouqueceram, Pelos anhos nos dentes de alcateias, Pela raiva que corre em minhas veias, Pelos heróis que os fornos derreteram!,   Pelo meu pensamento agrilhoado, Pelos que choram, pelos que batalham, Pelas crianças rotas na orfandade!,   Pelo direito do homem esmagado, Pelos que sofrem, pelos que trabalham, – Eu gritarei teu nome, ó Liberdade! ANTÓNIO TOPA (“O fio da palavra”, Ed. ACAP 77, Dammarie-les-Lys, 1993) Da palavra   A palavra subtil me limita e me transcende é minha enxada é meu pão e é meu canto   a palavra dia a dia mais concreta vai subindo é andaime quase estrutura mais andaime é edifício   ou é caminho de fuga a palavra que me dói hoje degredo amanhã esperança O futuro   vou por dentro da noite despenteado nu   sorrio dou a mão às estrelas enquanto caminho e como laranjas   mas não vou só   comigo vão sombras e vozes Ouvindo uma mãe no casamento do seu último filho emigrante no Luxemburgo   Amar os campos e o homem parir os filhos para o estrangeiro e   esperar que a terra se abra para enterrar o que resta. Lugar de guerra   “Les mois ne sont pas longs ni les jours ni les nuits. C’est la guerre qui est longue ».             Apollinaire     1. entre espadas altas sombras um lugar de guerra um lugar de morte lentamente pelo corpo   2. dois são os pulsos abertos em cada navio pelo mar dois são os olhos de pedra vendo os vivos amigos tecendo suas lágrimas como cordas grossas cordas e com os cabelos em chamas   3. chegam cartas e são facas pelas artérias do sonho tiros violentamente sobre a barriga da paz   chegam cartas vão navios e é tempo de cantar erguendo a voz e os punhos contra esta capa de sono contra esse céu coberto de armas   chegam cartas caixões navios soldados que foram homens vêm hirtos e de cal trazem os olhos furados   quem os conhece amigos os amigos agora de silêncio e cal? Histórias da história   Ontem hoje quem a história faz sabe-lhe o amargo gosto   ontem hoje pedalando pedalando pesadas bicicletas de sono e ódio dos carvalhos para o porto   ontem hoje às quatro ou às cinco da manhã pedalando pedalando dos carvalhos para o porto ou de grijó ou de sandim pedalando pedalando pesadas bicicletas de sono e ódio ou a pé carregando a vida e a marmita carregando o ódio   ontem hoje pesados comboios atravessando a espanha para alimentar as fábricas da europa e no metro de paris carregando um sonho antigos camponeses ontem   hoje operários apressados que a indústria e a europa reclamam e trituram   ontem hoje paris país proletário é já a pé quando se deitam os senhores   ontem hoje paris camponeses do minho ou da beira-baixa não de enxada às costas nem pedalando pesadas bicicletas de sono e ódio mas correndo correndo loucamente atrás dum sonho antigo ou do primeiro metro que lá vem arrastando triturando outros homens outros sonhos   ontem hoje do minho a paris quem a história faz sabe-lhe o amargo gosto   ontem hoje quem estas pedras levanta e em silêncio come as pedras que levanta sabe o gosto e o amargo da história   ontem hoje mas hoje amanhã amanhã futura muralha de gente invencível caminhando com força e alegria ao assalto do céu   amanhã hoje.

Décalages – Vie et œuvre de José Rodrigues Miguéis

du 13 novembre 2014 au 14 novembre 2014

Colloque international

Lieux : Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 / Fondation Calouste Gulbenkian – Délégation en France / Maison du Portugal (Cité internationale universitaire de Paris)

Organisateurs : Georges Da Costa, Université de Caen Basse-Normandie ; Catherine Dumas,  Agnès Levécot, Catarina Pereira et Ana Rocha, Université Sorbonne Nouvelle Paris 3EA 3421 – Centre de Recherches sur les Pays Lusophones (CREPAL)

Pour en savoir davantage (cliquer ici)

Présentation :   Lorsqu’il quitte le Portugal pour les Etats-Unis en 1935, José Rodrigues Miguéis (1901-1980) est un écrivain prometteur et un journaliste et militant politique reconnu, ancien membre du groupe Seara Nova, maintenant proche des communistes. A New-York, il poursuit ses activités militantes durant une dizaine d’années puis, après une grave maladie et une tentative infructueuse de retour définitif au Portugal, il finit par se consacrer pleinement à l’écriture. La majeure partie de son œuvre ne sera publiée en volume qu’à partir de 1958, à près de soixante ans, si bien que l’écrivain exilé se retrouve en décalage avec le Portugal (ses lecteurs, la société et la dictature en vigueur), mais aussi avec la vision du monde ayant présidé à l’écriture d’une grande partie de ses écrits inédits. C’est dans le cadre de ce parcours biobibliographique particulier que les communicants s’intéresseront à l’œuvre fictionnelle et non fictionnelle migueisienne. Les axes suivants, non exclusifs, nous semblent pertinents : la question des genres littéraires, la dimension référentielle (autobiographique et historique), le journaliste militant et l’écrivain, la question de l’exil, réception et diffusion de l’œuvre au Portugal et à l’étranger, les inédits (correspondance, textes journalistiques, iconographie, fictions), la biographie (encore incomplète) de l’écrivain. Alors que son œuvre est de plus en plus étudiée, ce premier colloque consacré à José Rodrigues Miguéis en France sera l’occasion de mieux faire connaître cette grande figure méconnue de l’histoire culturelle portugaise du XXe siècle.

JoseRodriguesMigueisAffiche

« Saudades não pagam dívidas » – recueil de textes d’expression émigrée

Traduisant le sentiment de milliers d’hommes et de femmes qui ont dû émigrer ou s’exiler et qui travaillent durement sur le sol français, “Saudades não pagam dívidas” (Les regrets ne compensent pas) est un recueil d’œuvres d’expression populaire, édité à Paris, en 1980, avec le concours de l’Association l’œil étranger.

Il comprend des poèmes recueillis dans les associations ou auprès de poètes anonymes par Yvette Tessard, Manuel Madeira et Alberto Melo. Ils constituent des témoignages authentiques qui alimentent la mémoire collective de l’immigration portugaise en France. Les thèmes apparaissent clairement à travers ces quelques titres: “O salto” (le saut, le passage clandestin de la frontière), ”Despedida” (les adieux), “A terra prometida” (la terre promise), “Máquinas alugadas” (des machines louées), ou encore “A Revolução portuguesa” (la Révolution portugaise).

Nous avons extrait de la partie intitulée « O salto » ce passage du très long poème “A Ilíada do Virgílio” (190 quatrains), écrit par Virgílio Joaquim Antunes, inspiré de la tradition orale, rappelant les chants à la desgarrada au Portugal ou les repentistas du Nordeste brésilien, dans lequel l’auteur nous raconte sa propre épopée:

A vinte e nove de fevereiro

A minha terra abandonei

Não desejo ao meu inimigo

Os martírios qu’eu passei

…..

E depois de todos juntos

Multiplicou a aflição

Entrámos 27 homens

Para dentro de um camião

……

Pão seco foi o que nos deram

E chouriço a acompanhar

Quem sabe se era de cão

Que ninguém lhe pôde pegar

…..

Ao sair do camião

Quase nem sabia andar

Tanto tempo encolhido

Deu quase para engamear

……

Neve com mais d’um palmo d’alto

Lá vão os desventurados

Subindo e descendo serras

Emigrantes desgraçados

…..

Seguimos então o guia

E as boas falas que nos deu

E numa casa mui grande

Lá para dentro nos meteu

…..

Às três e meia da tarde

A Paris fomos parar

Era tal o movimento

Não conseguimos desembarcar

……

Não julguem qu’em França os frangos*

Se apanham no capoeiro

É num deserto ou a voar

Olho vivo e pé ligeiro

…..

Não é abanar uma árvore

E encher um saco de caça

Para arranjar dois tostões

Sabe Deus o que se passa.

* Jeu de mot avec “francos”

Poésie entre deux rives – António TopaPoesia entre duas margens – António Topa

Immigrés économiques ou exilés politiques, les poètes portugais de France expriment, qu’ils soient populaires ou érudits, les sentiments et les messages propres de tous ceux qui vivent entre deux rives, entre deux mémoires. Leur voix poétique est l’écho des drames et des espérances de milliers d’hommes et de femmes partis à la recherche d’un avenir meilleur. Publiée initialement dans d’éphémères bulletins ou journaux associatifs, puis diffusée à travers les radios libres ou les radios locales, grâce au dur travail de quelques francs-tireurs agissant hors des circuits politiques et intellectuels reconnus, l’expression poétique portugaise en France tente de gagner une nouvelle “visibilité”.

Dans la présente rubrique, tous les 15 jours environ, nous présenterons un de ces poètes, à travers une brève notice biographique et quelques poèmes.

António Topa

capa O fio da palavra

 À travers sa poésie, António Topa évoque son propre itinéraire et manifeste ses sentiments, mais en même temps il exprime ceux de milliers d’hommes et de femmes qui se sont opposés à la guerre coloniale en Afrique, ont fui la dictature et la misère à la recherche d’un avenir meilleur et qui vivent aujourd’hui entre deux rives, entre deux mémoires. Sa poésie oscille entre réalisme et lyrisme, dans un langage libre du poids des conventions.

Né en 1948, à Porto, António Topa est issu d’une famille très modeste. Il a vécu son enfance et son adolescence  dans une « ilha » (« île »), nom donné aux habitations ouvrières de Porto. Cette période est évoquée dans son recueil de poèmes « O fio da palavra », publié en 1993 par les éditions ACAP 77 (Seine-et-Marne). Regroupés dans une première partie intitulée « Resistência », les poèmes écrits entre 1965 et 1970 contiennent déjà les interrogations et les inquiétudes du poète quant à son avenir, à celui de ses compatriotes et de son pays.

Très tôt il manifeste son opposition au régime politique de son pays et en 1968 il participe au 1er Congrès de l’Opposition Démocratique, à Aveiro. En 1969, il se réfugie en France et sera tour à tour secrétaire-général du Syndicat des Travailleurs Consulaires à l’Étranger, professeur d’éducation spécialisée et interprète, activité qu’il exerce actuellement. En tant que militant politique, il sera candidat au mandat de député sur les listes de l’APU et CDU de l’émigration.

Dans son deuxième recueil, bilingue, « Sur les lèvres du silence/Pelos lábios do silêncio” (éd. Lusophones, Paris, 2000), dominent les thèmes de l’exil, la saudade, l’amour et le sentiment d’être toujours en partance. L’apparente facilité avec laquelle António Topa construit ses vers nous laisse deviner que pour lui la poésie est un lieu d’exil naturel.

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DESCOBRIMENTO DO CAMINHO PARA A EMIGRAÇÃO

Dantes era a Índia

canela cravo oiro

diamantes insinuando

no colo das fidalgas

um brilho

de prata e puta

Hoje

mulher de blusa de chita

saia rota e anónima

mas alta como o silêncio

atravessas a Espanha a pé

carregada de suor sangue

saudade e raiva

como outrora teus irmãos

brancos escravos negros

ontem hoje nem sempre

Outrora do Restelo para o Brasil

armados com a cruz medindo o mundo

mas desarmados de coragem

contando os filhos e as lágrimas

Outrora cruzando raças e sangue

semeando medos e tempestades e

hoje de Monção à Ponta de Sagres

receando homens ventos e marés

parindo filhos para o estrangeiro

Dantes era a Índia orgulho da raça

Hoje descobres Auchwitz em Austelitz

Paris e o boulevard St. Michel

« poboado » de desfigurados artistas

engordando-se de “coltura”

lá pelas “sorvonnes”

ou então em obscuros hotéis

e no “batiment” com “vacanças” pagas

dez contos em moeda portuguesa

Assim encobres o teu destino

descobrindo os seios mirrados

velha puta

(in “O fio da palavra”)

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HISTÓRIAS DA HISTÓRIA

Ontem hoje

quem a história faz

sabe-lhe o amargo gosto

ontem hoje

pedalando pedalando

pesadas bicicletas

de sono e ódio

dos carvalhos para o porto

ontem hoje

às quatro ou

às cinco da manhã

pedalando pedalando

dos carvalhos para o porto

ou de grijó ou de sandim

pedalando pedalando

pesadas bicicletas

de sono e ódio

ou a pé

carregando a vida

e a marmita

carregando o ódio

ontem hoje

pesados comboios

atravessando a espanha

para alimentar

as fábricas da europa

e no metro de paris

carregando um sonho

antigos camponeses ontem

hoje operários apressados

que a indústria

e a europa reclamam

e trituram

(in “O fio da palavra”, excertos)

Immigrés économiques ou exilés politiques, les poètes portugais de France expriment, qu’ils soient populaires ou érudits, les sentiments et les messages propres de tous ceux qui vivent entre deux rives, entre deux mémoires. Leur voix poétique est l’écho des drames et des espérances de milliers d’hommes et de femmes partis à la recherche d’un avenir meilleur. Publiée initialement dans d’éphémères bulletins ou journaux associatifs, puis diffusée à travers les radios libres ou les radios locales, grâce au dur travail de quelques francs-tireurs agissant hors des circuits politiques et intellectuels reconnus, l’expression poétique portugaise en France tente de gagner une nouvelle “visibilité”.